25/02/2009

Turismo e Ludificação do Território

Território; Turismo, Lazer; Consumo.
Estes são os três eixos que agora ocupam a minha mente.
Quanto ao território, pode-se dizer que a escolha está delimitada. Serão, particularmente, as frentes de mar na Linha de Cascais, abrangendo os concelhos de Oeiras e Cascais.
O turismo e a ludificação desses territórios constituem o "objecto de estudo".
Por fim, o consumo assoma como corolário do turismo e práticas lúdicas com acervo no território.
Primeiro, há que conhecer a realidade turística em Portugal com base no que as estatísticas oficiais nos relatam e ir afunilando o máximo possível até ao patamar da realidade territorial que elegemos. Simultaneamente com leituras novas, e outras que relembrem algo já menos presente, as investidas ao campo ainda numa forma não interferente, ou minimizando a interferência do investigador que, por ora, ainda não se revelou como tal.
Estes são só os primeiros desafios, dos tantos e tantos que se irão, por certo, encontrar.

As opções e estudos bibliográficos vão ficando extensos:

BRAGA, Débora Cordeiro (2007), Planejamento Turístico. Teoria e Prática, Editora Campos, São Paulo

CABRAL, Manuel Villaverde, SILVA, Filipe Carreira da, SARAIVA, Tiago (Orgs.) (2008), Cidade & Cidadania. Governança Urbana e Participação Cidadã em Perspectiva Comparada, Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa
CAETANO, Joaquim (et al.) (2008), Marketing Ambiental, Plátano Editora, Corroios
CASTLES, Stephen (2005), Globalização, Transnacionalismo e Novos Fluxos Migratórios - Dos Trabalhadores Globais às Migrações Globais, Fim de Século Edições, Lisboa
CERTEAU, Michel de (1984), The Practice of Everyday Life, University of California Press, Berkely, Los Angeles

ESTEVES, João Pissarra (2003), Espaço Público e Democracia. Comunicação, Processos de Sentido e Identidades Sociais, Edições Colibri, Lisboa

GARFINKEL, Harold (1984), Studies in Ethnomethodology, Polity Press & Blackwell Publishers, Cambridge & Oxford
GOFFMAN, Erving (1963), Behavior in Public Spaces. Notes on the Social Organization of Gatherings, The Free Press, New York
GOFFMAN, Erving (1974), Frame Analysis. An Essay on the Organization of Experience, Northeastern University Press, Massachusetts

HANNIGAN, John (2000 [1998]), Fantasy City. Pleasure and Profit in the Postmodern Metropolis, Routlege, reprinted, London & New York
HANSOTE, Majo (2008), As Inteligências Cidadãs. Como se Inventa e Adquire a Palavra Colectiva, Instituto Piaget, Lisboa
HOLLOWAY, J. Christopher (et al.) (2006), The Business of Tourism, seventh edition, Prentice Hall

LEDRUT, Raymond (1973), Sociologie Urbaine, Presses Universitaires de France, Vendôme
LEE, Raymond M. (2003), Métodos Não Interferentes em Pesquisa Social, Gradiva Publicações, Lisboa
LEFEBVRE, Henri (2003), The Urban Revolution, University of Minnesota Press, Minneapolis, Minnesota
LEFEBVRE, Henri (2007 [1991]), The Production of Space, Blackwell Publishers, Malden, Massachusetts
LEFEBVRE, Henri (2008 [1991]), Critique of Everyday Life, Volume I - Introduction, Verso, London & New York
LEFEBVRE, Henri (2008 [2002]), Critique of Everyday Life, Volume II - Foundations for a Sociology of the Everyday, Verso, London & New York
LEFEBVRE, Henri (2008 [2005]), Critique of Everyday Life, Volume III - From Modernity to Modernism (Towards a Metaphilosophy of Daily Life), Verso, London & New York
LeGATES, Richard T., STOUT, Frederic (2007 [1996]), The City Reader, forth edition, Routledge, London & New York
LYNCH, Kevin (2003), A Imagem da Cidade, Edições 70, Lisboa
LYNCH, Kevin (2007), A Boa Forma da Cidade, Edições 70, Lisboa

PAIS, José Machado, CARVALHO, Clara, GUSMÃO, Neusa Mendes de (Orgs.) (2008), O Visual e o Quotidiano, Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa
PORTES, Alejandro (1999), Migrações Internacionais. Origens, Tipos e Modos de Incorporação, Celta Editora, Oeiras

RANSOME, Paul (2005), Work, Consumption & Culture: Affluence and Social Change in the Twenty-First Century, Sage Publications, London

SANTOS, José Manuel Figueiredo (2007), Turismo Agridoce. Vivências de Visão e Divisão, Edições Colibri, Lisboa
SANTOS, Mário Beja (2008), Consumo, Logo Existo, Pena Longa Editores, Lisboa
SILVA, Filipe Carreira da (2002), Espaço Público em Habermas, Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa

TORRES, Anália, BAPTISTA, Luís (Orgs.) (2008), Sociedades Contemporâneas. Reflexividade e Acção, Edições Afrontamento, Porto

VAZ, Domingos Martins (Org.) (2008), Cidade e Território. Identidades, Urbanismos e Dinâmicas Transfronteiriças, Celta Editora, Lisboa


... Sem contar ainda com alguns artigos, aos quais me vou já debruçando.

04/11/2008

Retorno em tons de caderno

Para breve o retorno deste caderno. Primeiro, sine qua non, a defesa de mestrado que se avizinha. Os estudos de doutoramento, esses, já se encontram iniciados: e deles, certamente, subtrairemos substância em suficiência para fazer andar este caderno.

17/11/2007

Reorganizar o Território – Planeamento Estratégico: Um novo paradigma?

É nos Estados Unidos que surge pela primeira vez a aplicação de uma gestão dita estratégica aplicada ao território, fenómeno de que a cidade de São Francisco pode ser tida como verdadeira pioneira. Numa primeira fase surge como resposta por parte dos grandes empresários, e a posteriori em articulação com o município, à crise financeira e fiscal da cidade. Recorrem, então, a «técnicas do planeamento estratégico na gestão de transformações urbanas, espaciais e funcionais, bem como na construção de infra-estruturas e equipamentos susceptíveis de relançar o desenvolvimento económico da cidade.»(1) Em meados dos anos 80 eram já mais de vinte as cidades norte-americanas que recorriam a esta forma de planeamento. Quanto à Europa é possível apontar a cidade britânica de Birmingham, nomeadamente em 1986, como a primeira a aplicar os princípios desta gestão territorial dita estratégica; a este exemplo seguem-se-lhe as cidades holandesas de Roterdão e Amesterdão.

A nomenclatura “Planeamento Estratégico” deriva, antes de mais, da linguagem militar, expressando bem lógicas das suas actividades: «“estratégia” como a “arte de planificar e dirigir os grandes movimentos e as operações de guerra” (…), pois o termo deriva do vocábulo grego stratego, que é a composição resultante de stratus (exército) e ego (líder).»

Assim, somos conduzidos a reconhecer que hoje «muitos dos princípios e metodologias das estratégias militares são válidos para a gestão moderna das empresas, das grandes organizações e das cidades. Trata-se, afinal, de traçar “planos de actuação” para gerir recursos (sempre escassos) e conduzir homens (que têm espírito e sentimentos) para conquistar territórios, mercados ou qualidade de vida em condições adversas, de competitividade ou mesmo de crise aberta.»(1)

O conceito de Planeamento Estratégico, no passado vincadamente ancorado ao jargão e filosofia militares, torna-se, por assim dizer, polissémico. Presentemente é fácil encontrar a aplicação – e porque não a aplicabilidade – deste conceito numa óptica que atravessa transversalmente a nossa sociedade e os seus saberes: desde as Ciências Militares, a que deve a sua génese, até ao Marketing, Gestão, Sociologia, Urbanismo em geral, etc...
Estreitando por ora a sua conceptualização ao nível da matéria proposta no título, importa tentar compreender onde este se encaixa na ordem do Planeamento Territorial. Quer-se com isto dizer, podemo-nos questionar se estamos perante um novo e original paradigma territorial ou se, por outro lado, temos presente apenas um apêndice ou uma extensão relativamente ao modelo territorial que tem dominado o planeamento nas últimas décadas, ie, uma perspectiva funcionalista de encarar e intervencionar o e no território.
Ora, quanto a este último ponto o “estado da arte” não se encontra ainda solidamente definido. Portanto, temos patente que embora muitos autores considerem o Planeamento Estratégico como paradigma original de pensar e intervir o e no território, outros manifestam opiniões contrastantes que veiculam a ideia de que o Planeamento Estratégico mais não é do que uma ferramenta complementar ao vigente Paradigma Funcionalista de organizar, passe-se o pleonasmo, as 'funções' no espaço territorial. Se uns defendem a falência do paradigma funcionalista, outros sustentam que os princípios estratégicos complementam e não substituem através de uma ruptura paradigmática o 'olhar' com que 'vemos' o território. Embora a explicação que distingue aqui duas linhas de pensamento seja simplista e insuficiente para as compreendermos de facto, deixar-se-á para outra oportunidade discussão mais aprofundada e, convenha-se, pertinente.

Focar-se-á, neste artigo, a atenção na primeira das linhas de pensamento, o que obriga a uma breve explanação sobre as características do Planeamento Estratégico versus as do Planeamento “Convencional” Funcionalista.
Em traços gerais, podemos esboçar as principais características destas distintas lógicas de planeamento esquematizando-as da seguinte forma:




Após comparadas as respectivas características referentes a cada um dos modelos, podem-se desde já retirar algumas conclusões, em traços largos e ainda que breves e sintéticas, sobre a forma como se opera o planeamento estratégico aplicado ao território. Trata-se, então, de um modelo que visa definir e realizar um projecto de cidade cujos principais objectivos poderiam ser reunidos em duas características axiais: reforçar a competitividade das cidades, recorrendo simultaneamente a uma lógica 'simbiótica' em que a possibilidade de melhorar a qualidade de vida, quer o cidadão seja residente ou apenas utente, ganha uma importância vital. De modo a cumprir estes objectivos propostos, instrumentaliza-se de uma metodologia muito própria e característica que bebe igualmente das suas influências e antecedentes originários. Grosso modo, a planificação estratégica tende a unificar esforços no sentido de proceder aos diagnósticos que assim se vão verificando na realidade social, fazendo-o através da coordenação de actores públicos e privados, almejando a que se firme um processo coerente em que se mobilizam e cooperam um vasto leque de actores sociais urbanos. Ora, prestemos atenção, por exemplo, à afirmação que se segue: «um “contrato” de gestão entre actores políticos, económicos e sociais para o progresso desse território.» Pese embora o facto do termo “progresso” se encontrar manifesta e latentemente estigmatizado por uma ideossincrasia da qual lhe é difícil 'descolar', facilmente nesta frase compreendemos que a sua substituição, mesmo que num plano abstracto e relativamente independente à devida autoria, pelo termo “desenvolvimento” em nada nos chocaria.

Resta, todavia, esclarecer outra questão que muito certamente poderá ocasionar bastantes e justificadas dúvidas. Não se deve encarar o Planeamento Estratégico, embora a terminologia nos conduza ou nos possa induzir a uma interpretação errónea, como um “plano” na acepção tradicional do termo: trata-se, antes de mais, de um processo de intervenção e interacção político-social e cultural que visa, através da intervenção no território, organização e pessoas, espairecer e reduzir as assimetrias urbanas, aspirando e promovendo a uma coesão social mais equilibrada em torno da busca, sempre constante e sempre inacaba?, por melhores condições da qualidade de vida. Contudo, o Planeamento não se esgota ao nível do plano, no sentido estrito da palavra, antes concorre como mais um, de certo fundamental, instrumento numa óptica sistémica e sustentada destas sociedades de “capitalismo avançado” em que vivenciamos e experimentamos reflexivamente(2) no espaço-tempo como actores, indivíduos, pessoas.

(1) FERREIRA, António Fonseca, Gestão Estratégica de Cidades e Regiões, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2005
(2) BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott, Modernização Reflexiva – Política, Tradição e Estética no Mundo Moderno, Celta Editora, Oeiras, 2000
Ver também, particularmente sobre a questão da 'dinâmica' das cidades, HALL, Peter, Cities of Tomorrow, Blackwell Publishing, third edition, 2002

Retoma

Após alguns meses desde o 'início' deste blog é agora finalmente oportuno dar-lhe continuação, apresentado o que aqui se pretendeu com a sua criação.

05/07/2007

Apresentação do Caderno

Há muito que a Sociologia ocupa um lugar secundário, com algum desencanto, por entre as suas ciências companheiras. Por entre as ditas Ciências Sociais, talvez não e, nestas, tem vindo, concomitantemente, a assumir um papel de charneira onde francamente vai evidenciando as suas valências. Isto, claro está, neste país que é o nosso, um Portugal que teima em ser um Portugal dos Pequenitos. Vou escusar-me a exemplificações onde a Sociologia não é modesta; poderia falar dos nossos pares europeus, o que por si daria em letras que se estenderiam por lençóis de páginas; igualmente, nos casos anglo-saxónicos mais distantes: escuso-me a resmonear pelo simples facto de resmonear, não creio que sejamos os pequenitos portugueses nem como tal me quero assumir nessa identidade pretensa.

Serve este caderno, em súmula e na sua mais modéstia forma, para ser mais um entre outros – poucos – blogues que estimulados pela Sociologia nos trazem ao debate ou ao comentário, à compreensão como à explicação – sempre válida apenas por questões de razão, causalidade, temporalidades, mas nunca pelo dogma.

Importa pouco ao autor se o blogue é ou não importante, tal como ou essencialmente como os posts que o comporão daqui para diante. É o autor sociólogo, sim. Com gosto e alma. Importa dar visibilidade ao que ainda não se quer crer como pertinente. Embora seja a defesa do réu, parece-me a mim importante a Sociologia.